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quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Impressões da Infância

É um grande prazer registrar algumas passagens da minha infância na Fazenda “Periperi”.
Anos 70, sem a internet e as praças para distrairmos, tinha como objetivo estudar bastante e passar as férias na fazenda dos avós maternos: Padrinho Zeca e Madrinha Fulô.
Reuniam-se algumas primas e partíamos para a querida Periperi. Já começávamos curtir desde a viagem. Lembro-me de um 13 de dezembro, chovia bastante, saímos de Guanambi às 16:00 hs, o carro atolou, chegamos na fazenda do nosso avô Zeca, exatamente meia-noite. Estávamos mortas de cansadas e fome, mas muito felizes. A madrinha Fulô disse-nos daquele jeitinho meigo e carinhoso: “meninas, não sabia que vocês viriam, só tenho feijão catador cozido e ovo. Foi a comida mais gostosa que já comi!
Quanta alegria era estar naquela fazenda! Acordávamos cedo com o canto dos galos e os raios do sol penetrando pelas aberturas das telhas. Íamos para o curral tirarmos leite das vacas, tomarmos aquele leite fresquinho, espumante, uma delícia!
Corríamos para as mangueiras, chupávamos mangas até fartarmos. Cada mangueira que tinha era registrado o nome de um filho dos nossos avós, a mangueira que eu mais gostava, tinha a maior copa, mais alta e linda, diziam que a tinham plantado quando a Tia Mariá nasceu, e eu achava linda esta história!
O terreiro, com árvores frutíferas, plantas floridas, o mimo do céu, espirradeiras, alecrim, jasmim, a natureza exuberante, o cheiro do mato verde, o cantar dos periquitos, galinhas, carneiros, o canavial que chupávamos tantas canas, a terra vermelha que nos deixávamos encardidas, tudo me alegrava muito! Quantas saudades!
No fundo do pomar, corria um riacho, quantas bagunças fizemos por lá, banhávamos, lavávamos as louças da madrinha Fulô, quantos pratos e talheres a água carregava e a bronca era certa, mas tudo deixávamos felizes.
Também tínhamos tarefas a cumprir na casa, fazíamos rápido, pois não poderíamos perder tempo. Trabalhos feitos, partíamos para a diversão. Andávamos a cavalo, galopando pelos pastos e estradas sem destino, caíamos, levantávamos e seguíamos em frente, radiantes com as aventuras realizadas. Tomávamos banhos em rios, estilingavámos os passarinhos, subíamos e descíamos morros à procura somente da liberdade, da brisa batendo nos rostos e nada de mal nos acontecia, somente alguns arranhões.
Recordo-me de uma festa no São João, reuniram-se todos os filhos, filhas, genros, noras, netos, netas e alguns amigos para a festança. Sacrificou-se um boi para a comilança. O terreiro limpíssimo para o forró, bandeirolas postas, lenha para a fogueira, assados deliciosos, tudo certo, à tardinha fomos ao rio tomar banho, e neste dia, quase morri afogada, querendo levar também a prima Beth. Quando nossas mães souberam do acontecido pelos linguarudos Ivo e João, ficaram arrasadas, acamadas, quase mortas, finalmente acabou tudo em festa! Que festa boa!
É impossível registrar todos os acontecimentos, paqueras que surgiram, peraltices que fizemos, o que posso afirmar é que foi um período muito bom, com uma riqueza de detalhes muito grande que até hoje estão vivas e efervescentes em nossas memórias. Tempos de grandes brincadeiras e descobertas, de ar puro, natureza, noites estreladas, lua cheia, histórias do bem e do mal, brigas, mas “brigas sadias”, broncas e até “surras” do tio Viva.
Infelizmente nossas crianças hoje, meus filhos, não as vivenciaram intensamente. Tempos bons que tivemos a oportunidade de alicerçar em nossas juventudes, deste “paraíso”, nos proporcionando alegrias, paz, harmonia, amor pelos avós, pela Odália cozinheira e amiga de todos. Trago no meu lar um quadro desta fazenda e muitas vezes quando o olho transporta-me para lá, com o coração apertado de saudades e novamente recomeça a história ...

Iane Margareth

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